Esmeraldo Soares Tarquinio
de Campos Filho

Seu pai veio da Bahia com 14 anos. Fixou-se em São Vicente, indo trabalhar como gráfico no jornal da época, O Progresso. Ali aprendeu a escrever, fazendo-se jornalista. Depois foi para Santos, trabalhar no Jornal da Noite, Diário da Manhã e Praça de Santos. Neste último fez a revolução de 30, contra Washington Luiz. Uma noite, quando estava na redação, foi obrigado a sair pela clarabóia, para não se haver com a polícia. Mas em 32 voltou a fazer nova revolução, desta vez por São Paulo. As lutas o levaram à tuberculose. Morreu dois anos depois (1934), em Campos do Jordão. Quando seu pai morreu, Esmeraldo tinha 7 anos e já sabia ler. Sua mãe ensinou. A situação financeira da família não andava bem, não tardou que se mudassem para São Paulo. Na capital, começou o drama do menino pobre.

Aos 9 anos, tornou-se aprendiz de marceneiro. Sobrava tempo ainda para estudar no Grupo Escolar Eduardo Prado. Seu segundo emprego foi como aprendiz de gráfico. Mas, ficou pouco em São Paulo. Em 37, dia 13 de janeiro, mudou-se novamente para Santos, com sua mãe.

Arranjou serviço no Jornal da Noite, de propriedade de Mário Amazonas, como contínuo de redação e oficina. Esmeraldo lembra ainda hoje o episódio da calandra, o "trote" que sofrem todos os novos em jornal. Um dia um redator pediu que ele fosse à oficina buscar uma calandra embrulhada. A calandra é uma máquina que tem três toneladas. Ele voltou à redação acabrunhado com a brincadeira.

Hoje, em Campos do Jordão, aguardando o momento da posse, Esmeraldo recorda alguns companheiros dessa época. Entre eles, Rosinha Mastrangelo e Pedro Peressin, o popular Barbado.

Do Jornal da Noite foi para a agência de mensageiros. Durou pouco esse emprego. O seguinte foi no escritório do advogado Cleóbulo Amazonas Duarte, como office-boy, para ganhar 50 mil réis. Tinha dez anos.

Além do escritório, fazia alguns serviços no Fórum. Isso significava uns cobres a mais. O convite partiu de Paulo Gasgon, na época escrivão da 1ª Vara. Esmeraldo lembra de uma passagem daquele tempo. Dia 11 de outubro de 1937, foi a um parque de diversões e ganhou uma garrafa de vinho tinto. Como recebera 12 mil réis para sortear os jurados, aproveitou para almoçar com um amigo, no Bairrada. Pediram uma mariscada americana, acompanhada pelo bom vinho ganho no parque. Depois não foi trabalhar. Tem preferência a uma pelada no campo do infantil do Vasco da Gama. Mas não teve forças para isso e acabou dormindo até as 7 da noite. Era fatal: no dia seguinte, quando chegou às 8h30 para abrir o escritório, encontrou um bilhete do dr. Amazonas Duarte. Era o bilhete azul.

A vida continuou difícil, a família precisava daqueles mil réis. Tarquínio não podia dizer à mãe que estava desempregado. Então, corre as casas comerciais e deixa o nome em todas elas.

Em 25 de outubro de 1938, recebeu o primeiro cartão de sua vida que o chamava de "Senhor Esmeraldo". Era de João Antonio Mendes, tradicional comerciante de livros em Santos. O convite foi aceito e lá foi ele vender livros e fazer entregas. Esmeraldo diz hoje que foi este um dos principais empregos de sua vida. Tem certeza de que os livros de João Merndes o ajudaram a aprender até o inglês.

Em 4 de setembro de 39, uma segunda-feira, logo após o início da guerra, começou a trabalhar com o advogado Álvaro de Cunha Parente, ganhando 140 mil réis. Em 4 de fevereiro de 1944, foi para o escritório de despachos aduaneiros de Olímpio dos Santos Lima, por 250 mil réis. Em setembro do ano seguinte, com 450 cruzeiros, passou para o escritório de despachos de Domingos Pierri. Mas só em 14 de novembro do mesmo ano viu que dava para cantor: Esmeraldo abafou na orquestra de "Nardi e os seus rapazes". Sua estréia foi no baile do Jabaquara.

Em 1º de julho de 1946, foi para a firma Ennor & Cia., cujo despachante era Henrique de Araújo. Como chefe de exportação, Esmeraldo passou a ganhar 800 cruzeiros. Em 47, foi aumentado para 1.200 cruzeiros.

Em fins desse ano, para ganhar 1.600, passou a trabalhar com João Mazeli. Em 48, tornou-se contador no José Bonifácio. Depois, foi fazer um curso no Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, sempre trabalhando.

Favorecido por uma lei de Dutra, em 1950, que beneficiava os que se formavam na época em contabilidade, fez um cursinho e prestou vestibular para Faculdade de Direito em Niterói. Entre 1.753 candidatos, conseguiu ingressar com uma boa média. A partir de 1957 abandonou todos os empregos, dedicando-se exclusivamente à advocacia. Seu primeiro companheiro de banca foi o advogado Luciano Barbosa.

Sua carreira política começou depois da guerra, com a derrocada de Getúlio, quando se formavam os partidos políticos. Esmeraldo ingressou no Partido Social Sindicalista, com 18 anos, levado por Álvaro Parente. Na mesma época, Ademar de Barros fundou o Partido Republicano Progressista. Não demorou muito para as cúpulas dessas duas agremiações resolverem fundir-se num só partido. Assim surgiu o PSP. Mas Ademar resolveu ser o "dono", sozinho, do novo partido. Esmeraldo, quando viu que social progressista só tinha ademarismo, retirou-se.

Em 54 ingressou no PSB, fazendo a campanha de Jânio Quadros para o governo de São Paulo. Quando Getúlio se suicidou, Esmeraldo ficou impressionado com o relato de Carlos Lacerda sobre o chamado "mar de lama", porém se assustou ainda mais com a "república do Galeão" que fez o IPM reservado da Aeronáutica. Esmeraldo analisou bem a carta deixada por Getúlio e resolveu ingressar "na prática do nacionalismo acima dos partidos".

Em 59, candidatou-se a vereador pelo PSB, sendo eleito com 689 votos, tomando posse em janeiro de 60. Na disputa de Jânio com Lott, Esmeraldo Tarquínio, contrariando a cúpula do PSB, apoiou o primeiro. Por isso, deixou o partido e fundou com amigos a Ação Socialista, sob a presidência do prof Alípio Correia Neto. Durante o tempo em que José Gomes foi o prefeito, Esmeraldo foi seu líder na Câmara, somente saindo dali para ocupar uma cadeira na Assembléia Legislativa, eleito que fora em 62, com 7.192 votos.

Já no MTR, nessa altura, disputou a Prefeitura de Santos contra Sílvio Fernandes Lopes e, embora derrotado, obteve a espantosa soma de 35 mil votos, aproximadamente. Um ano depois, foi reeleito para a Assembléia com expressiva votação de 32.520.

Disputou e venceu as eleições para a prefeitura em 1968, com Oswaldo Justo como vice. Foi cassado em 13 de março de 1969, antes de assumir o cargo. A cidade de Santos passou a ser governada por interventores federais. Esmeraldo continuou a advogar e passou a lecionar.

A partir daí, Tarquínio foi um dos líderes de uma campanha pela autonomia política da cidade. Para viver, tornou-se comentarista em um programa de tevê muito popular na época, que se chamada “Titulares da Notícia”, na TV Bandeirantes, e cantava blues em algumas casas noturnas de São Paulo.

Com o fim de sua cassação, candidatou-se a deputado estadual em 1982, mas morreu no dia 10 de novembro, cinco dias antes do pleito, com 55 anos de idade. Com a volta da autonomia política, seu vice de 68, Oswaldo Justo venceu a eleição fora de data de junho de 1984, uma espécie de justiça poética feita com votos livres, uma retomada de onde havíamos sido interrompidos.

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