Valentim Bouças

Valentim Fernandes Bouças nasceu em Santos (SP) no dia 1º de setembro de 1891. Era filho de Francisco Bouças, empregado da Companhia Docas de Santos, e de Maria José Fernandes.

Fez seus primeiros estudos no Colégio Cesário Bastos, integrando a primeira turma da escola, que foi criada na esquina das ruas Sete de Setembro e Senador Feijó. Também estudou na Escola Barnabé.

Com quatorze anos de idade começou a trabalhar como office-boy na Companhia Docas de Santos, onde ficou por três anos.

Ingressa na pioneira turma da Academia de Comércio José Bonifácio, diplomando-se em 1909, como o primeiro e único a se graduar naquele famoso colégio. Naquele mesmo ano representou os estudantes santistas no I Congresso de Estudantes Brasileiros, realizado em São Paulo.

Com vinte anos de idade foi contratado como contador da firma Correia Magalhães, mas ficou por pouco mais de um ano. Sem obter nova colocação na sua área de atuação, aceitara a modesta função de vendedor de caixas registradoras, da marca National, produzidas e importadas dos Estados Unidos. Atuando em Santos e região, ele até que se destacou, chegando, inclusive, a ganhar um relógio de ouro por seu desempenho. Porém, o mercado emsua área de cobertura rapidamente saturara, e os ganhos passaram a ser
cada vez menores.

1915 - Estimulado por um amigo, Theodore Meyer, Valentim, que já era casado com Djanira Coelho, e pai de duas meninas, resolveu vender alguns objetos pessoais e, com o dinheiro, partiu para os Estados Unidos atrás de uma oportunidade de negócio. Ele queria pegar a representação de algum produto que pudesse ser vendido no Brasil. Assim, ele acabou se tornando representante de uma empresa de borracha, a Boston Belting Co., deste ano ao seguinte. Mas o negócio não deu certo.

Em 1917 Valentim retorna aos Estados Unidos à caça de uma nova empresa para representar e procura a CTR (Computing Tabulation Recording), conhecida pela famosa máquina perfuradora de cartões “Hollerith” (a precursora dos computadores). Em Nova Iorque conhece Thomas Watson, CEO da CTR, com quem fecha um acordo de representação no Brasil. Naquele mesmo ano, o santista fecha um grande negócio com a Diretoria de Estatística Comercial (o atual IBGE) e conquista o respeito dos norte-americanos, que o tornam o primeiro representante da CTR no exterior.

Por conta do sucesso das vendas de Valentim Bouças para a CTR no Brasil, em 1924 a empresa norte-americana decide investir fortemente em operações fora dos Estados Unidos, mudando seu nome para “Internacional Business Machines”. Nascia, assim, a IBM, que se tornaria uma das mais importantes empresas do setor de tecnologia no mundo.

Em 1930, Getúlio Vargas toma o poder no Brasil e encontra a empresa de Bouças com contratos de prestação de serviços contábeis e estatísticos firmados em todos os ministérios. O chefe do Governo Provisório, então, ordena ao ministro da Justiça, Osvaldo Aranha, que estabeleça um prazo de 48 horas para as máquinas Hollerith serem retiradas de todos os departamentos federais. O santista, então, procura Aranha para convence-lo a dar-lhe permissão para continuar os serviços, sem garantia de verba, mas com a promessa da abertura de um crédito especial se ficasse demonstrada a importância dos trabalhos realizados pela empresa. Bouças não só conseguiu provar a importância de seu serviço, como conquistou a confiança de Vargas.

Estudioso dos assuntos econômicos e financeiros, Bouças escreve seu primeiro artigo sobre a dívida externa no Jornal do Comércio em janeiro de 1931. A repercussão do texto fez o prestígio do santista crescer dentro do Governo. Vargas logo o colocou como coordenador da dívida externa brasileira.

Em novembro de 1932, os Serviços Hollerith foram incumbidos de realizar a contabilidade mecanizada do Ministério da Fazenda.

Entre janeiro e junho de 1933, Bouças participou das negociações com o governo norte-americano sobre a dívida externa. Ainda em junho, fez parte da delegação brasileira à Conferência Mundial Monetária e Econômica, realizada em Londres. Nesse mesmo ano, representou o governo brasileiro e o Banco do Brasil no acordo comercial e financeiro celebrado com o Conselho Nacional de Comércio Exterior dos Estados Unidos. No ano seguinte, viajou aos Estados Unidos para tentar aumentar a exportação de café para esse país. Bouças, assim, se tornava um homem forte no governo nacional.

A partir de 1935, Bouças passou a fazer parte de um círculo de representantes da área econômica, industrial e comercial ligados a Vargas, de quem se tornou orientador financeiro pessoal.

Em 1936, Bouças funda a revista O Observador Econômico e Financeiro. Em seu primeiro número, que circulou em fevereiro, a publicação preconizava uma reforma monetária e bancária, uma nova política com relação à dívida externa e um desempenho mais intenso do Estado no desenvolvimento industrial.

No ano seguinte, Bouças, como consultor técnico do Conselho Federal de Comércio Exterior, criado para centralizar a política de comércio externo, cuidava de toda política comercial do Brasil. Elaborou diversos acordos e participava de negociações em vários países. Em paralelo, ainda cuidava dos negócios da IBM no Brasil e em alguns outros países.

Em 1943 Bouças torna-se membro da Comissão de Controle dos Acordos de Washington, da qual mais tarde seria diretor-executivo.

E m 1945, a pedido dos membros do Instituto Histórico e Geográfico de Santos, Valentim Bouças adquire, com seus próprios recursos, o imóvel da avenida Conselheiro Nébias, 689, doando-a, em seguida, à instituição. Por este ato generoso, Bouças se torna um dos principais patronos do IHGS e seu nome passa a batizar a histórica edificação erguida no final do século 19.

Em 1947, integrou a Comissão de Investimento de Capitais Estrangeiros no Brasil, além de ter sido presidente do Comitê Brasileiro da Câmara Internacional de Comércio.

Em 1948, Valentim Bouças casa-se com Maria Blanca Antony.

Entre setembro de 1948 e fevereiro de 1949, Bouças foi membro da Comissão Mista Brasileiro-Americana de Estudos Econômicos, que ficou conhecida como Missão Abbink. Em agosto de 1949, foi presidente da III Conferência de Técnicos em Contabilidade Pública e Assuntos Fazendários.

Bouças participou, em 1951, da IV Reunião de Consulta dos Chanceleres das Repúblicas Americanas. Aos 60 anos de idade, o santista acumulava os caros de presidente das empresas Companhia Nacional de Máquinas Comerciais, Adressograph-Multigraph do Brasil S.A. e da Companhia Imobiliária Santa Cruz, além dos postos de diretor da Companhia Goodyear do Brasil, da Ferro Enamel S.A., da Companhia Swift do Brasil, da Panair do Brasil e da Companhia Brasileira de Material Ferroviário. Era ainda representante da American Bank Note Co. e consultor técnico da Armco Industrial e Comercial S.A.

Em 1957, lançou o livro Finanças do Brasil (1932-1957)

EM 1960, num acordo amigável, Bouças deixa de representar a IBM, após mais de quarenta anos de parceria. Sua relação com Thomas Watson era de amizade estreita e sincera.

Valentim Bouças, que vinha sofrendo com uma doença cardíaca, faleceu em sua própria casa, no Rio de Janeiro, às 7 horas do dia 2 de dezembro de 1964, aos 73 anos de idade. Ao seu sepultamento compareceram muitas autoridades, incluindo o então governador da Guanabara, Carlos Lacerda e o ministro Otávio Gouveia de Bulhões.

Foi casado com Djanira Coelho, com quem teve seis filhos (Marina, Vitor, Luis Carlos, Jorge, Odete e Iolanda) e, em segundas núpcias, com Maria Blanca Antony.

Publicou os seguintes trabalhos: Serviços Hollerith (1927), Finanças do Brasil (1932-1957, 20v.) e O tratado de comércio brasileiro-norte-americano (1935).

CURIOSIDADES

Valentim Bouças teve muitos netos, entre eles, o mais velho, filho de Marina, era Carlos Eduardo Bouças Dolabella, que viria a se tornar um dos grandes atores de TV do Brasil.

Existem ruas com o nome de Valentim Bouças em São Paulo (Zona Norte) e no Rio de Janeiro (Cidade de Deus).

Um dos filhos de Bouças, Luis Carlos, se casou com Helena, filha do famoso teatrólogo e compositor Geysa Bôscoli.

Em 1961, Ibrahim Sued atuava como assistente de Valentim Bouças, que ocupava o cargo de diretor do Departamento de Turismoe Certames do Rio de Janeiro.