Francisco Martins dos Santos

Nasceu em Santos, a 5 de fevereiro de 1903. Filho do abolicionista e republicano Américo Martins dos Santos e de D. Valentina Guimar Patusca Martins dos Santos. Estudou as primeiras letras na Escola de d. Maria Guimarães e com o prof. Francisco Russo da Silveira. Depois cursou o Ginásio Santista até o 1º ano secundário. Em 1915 foi para S. Paulo, onde cursou o Liceu Salesiano (do Sagrado Coração de Jesus). A gripe espanhola interrompeu seus estudos de Direito, Letras e em Biblioteconomia. Ainda assim, anos mais tarde, formou-se em Ciências e Letras, em São Paulo, e em Biblioteconomia, no Rio de Janeiro.

Tendo desistido dos estudos jurídicos, em São Paulo, e de volta a Santos, dedicou-se ao jornalismo, trabalhando, a partir de 1920, em todos os jornais santistas: "Jornal da Noite", "A Gazeta do Povo", "Praça de Santos", "O Diário", "Comércio de Santos", "Diário de Santos" e "A Tribuna", além de em várias revistas: "Estrela Azul", "A Nota", "Flama", "Brasilidade", "Revista do Banco do Brasil" e "Trânsito". Em 1923 montou seu próprio jornal - "O Balneário" - literário e crítico, com sede em Guarujá, contando com a colaboração de notáveis literatos, entre os quais Benedicto Calixto.

Começou a se destacar nas rádios de Santos e de São Paulo a partir de 1933. Nos teatros, foi barítono e tenor dramático, especializado no gênero operístico, canções napolitanas e no folclore brasileiro de câmara, apresentando-se com acompanhamento de piano e grande orquestra sob várias regências. Em 1939, foi classificado, pela grande Besanzone, como tenor dramático excepcional e por ela convidado a ingressar no seu elenco, no Rio de Janeiro, o que fez em 1940, ali estudando com o tenor comendador Romeu Boscacci, de Milão, e cena, com o mestre do Municipal do Rio de Janeiro, na Temporada Oficial, cantando o 2º tenor na ópera "Tiradentes", sob a regência do autor, maestro Eleazar de Carvalho.

Na temporada nacional, foi escalado para cantar as óperas "Jupira" (sob a regência do autor, maestro Francisco Braga), "Tosca" (de Verdi) e "Cavaleria Rusticana". Quando se apresentava para cumprir aquele primeiro contrato, sob o patrocínio do Ministério da Educação/Serviço Nacional do Teatro, a guerra promoveu o afastamento dos maestros italianos do Teatro Municipal, causando a anulação da temporada em ensaio. Devido a essa crise, ele se afastou da atividade organizada, passando a cantar, como amador, em teatros e rádios do Rio de Janeiro.

Em 1938 inspirou a fundação do Instituto Histórico e Geográfico de Santos, conseguindo com o santista Valentim F. Bouças a doação do prédio onde essa entidade se instalou. Participou da fundação da Uniter - Organização de Ciências, Letras e Artes, e do PEN Clube (Pensadores, Escritores e Novelistas), ambos na então capital federal.

Foi funcionário federal adido à Presidência da República, a partir de 1938, quando ingressou no DASP, como técnico de Administração Pública e Documental, no Rio de Janeiro. Em 1948 voltou para Santos. Em 1955 foi admitido como arquivista e posteriormente como bibliotecário da Câmara Municipal de Santos, onde organizou todo o serviço de documentação histórica. Aposentou-se compulsoriamente aos setenta anos. Em São Vicente fundou em 1959 o Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente, do qual se tornou presidente, dois lustros depois.

Francisco Martins dos Santos foi historiador, escritor, poeta, jornalista, crítico de arte, conferencista, professor de História e Geografia e polígrafo. Foi membro da Academia Santista de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e de mais de uma dezena de consagradas instituições nacionais de arte, literatura, geografia, poesia e história, como a União Brasileira dos Escritores (UBE), o conselho administrativo do Museu Histórico e Pedagógico dos Andradas, a Sociedade dos Homens de Letras do Brasil, a Sociedade Brasileira de Geografia, o Centro de Ciências e Letras de Campinas, o Instituto Heráldico e Genealógico Brasileiro, a Associação Brasileira de Críticos Teatrais, o conselho administrativo do Museu Histórico e Pedagógico Martim Afonso de Souza, a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, a Sociedade de Amigos de Alberto Torres (Rio de Janeiro), o Instituto Histórico e Geográfico de Jaguarão (RN), a Comissão Municipal de História de Santos.

Foi ainda Camonista, pela Academia Brasileira de Letras; sócio efetivo do Conselho Nacional de Geografia; do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Sociedade Brasileira de Geografia. Especializou-se em História e Geografia, antigas e modernas, temas orientalistas e toponímia histórica das Américas, da África e do Brasil. Formou-se em paleografia pelo Museu Histórico do Rio de Janeiro e dedicou-se em profundidade à história e geografia antigas da Espanha, de Portugal e do Brasil. Estudou árabe e hebraico em caracteres latinos e em 1975 compareceu ao encontro regional da ANPHU, realizado em Santos, onde afirmou, em sua palestra, que Fernando de Noronha trouxe para o Brasil muitos árabes e judeus, misturando a sua língua com o tupi e assim originando nomes híbridos da nossa toponímia. Fundou três bibliotecas e dois museus.

Venceu vários concursos oficiais de poesia, biografias e literatura. Ganhou medalhas de ouro pelos poemas "Cidade Ninféia", "Cidade Eleita", "Poema da morte de Braz Cubas para o pórtico de minha história". Venceu o Concurso Literário Rui Barbosa, promovido pela Câmara Municipal de Santos, e o Concurso de Poesia Martins Fontes, promovido pela Prefeitura Municipal de Santos.

Polemista, conseguiu que São Vicente fosse oficialmente reconhecida pelo Congresso Nacional e pelo Governo Federal como "Cellula Mater da Nacionalidade". Denunciou pela imprensa a invasão do território santista pelo município de Cubatão, seu ex-distrito, provando que a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa) estava parcialmente construída dentro das terras santistas, o que daria direito a Santos de tributar essa siderúrgica. Lutou para que fosse construída uma ponte entre as áreas insular e continental de Santos, permitindo a integração do território municipal.

Foi esportista, integrando a equipe de remo e atletismo do Clube Internacional de Regatas e jogando futebol pelo Santos F.C., pelo qual foi campeão, ainda em pleno amadorismo, em 1925. Apreciador da natureza, durante mais de vinte anos, em sua juventude, embrenhava-se nos matos para estudar botânica e zoologia. Naquela época dividia seu tempo entre o esporte, o comércio, o jornalismo e os estudos de ciências e línguas, entre estas o tupi-guarani, em que chegou a versejar, praticando-o e apurando o ouvido, em convívio com os remanescentes indígenas do litoral paulista (Cananéia, Itariri, Bananal e Caiaoica), em excursões por vezes demoradas.

Faleceu em 11 de outubro de 1978, em São Vicente, onde presidia, então, o Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente. Deixou viúva dona Odette Veiga Martins dos Santos (que - entre múltiplas atividades filantrópicas e culturais - também o ajudou a fundar esse instituto, ocupando a Cadeira nº 2, de "Bartira", e faleceu em 3/12/1984).

Bibliografia: ""História de Santos" (2 volumes, 1937); "Lendas e Tradições de uma velha cidade do Brasil" (1940); "O fato moral e o fato social da década getuliana" (1940); "Grande mapa antigo e moderno do município de Santos" (1942); "Bertioga Histórica e Legendária" (1948); "Rui Barbosa" (1949); "Caderno Geográfico do Distrito Federal" (1944); "Caderno Coreográfico Santista" (1941); "Planta Cadastral da Cidade de Santos" (1948); "Divertimento Histórico e Geográfico Brasileiro" (para crianças, 1942); "Pequena História do Guarujá" (1972); "Histórico da Imprensa Santista" (1939); "As grandes lendas do litoral paulista" (1970); "Reabilitação de Calabar" (1969).

Publicou muitas monografias, entre as quais: "Braz Cubas perante a verdade histórica de Santos", "Biografia de José Bonifácio", "Biografia de Saturnino de Brito", "Lendas, festas e tradições do litoral paulista", "Toponímia Santista" e outras sobre os bairros e ruas de Santos. Usava os pseudônimos de "João do Sul", "Ariel", "Fraemar", "Caiçara", "Levabel" e outros, ao escrever em numerosas revistas populares, em diversos tipos de poesia, como vilancete, sonetos, balada, trova, poema heróico e outros, que lhe valeram a consagração em diversos concursos. Venceu em 1960 os Jogos Florais da Primavera, em Santos, com medalha de ouro nas provas de Conto (com o conto regional "Candango", relacionado à fundação de Brasília) e de Poesia (com a balada clássica francesa "Balada da Flor Mulher").

Deixou ainda várias obras prontas, sem editar, como: "Terra de Piratininga e os Judeus na Formação de São Paulo"; "Costeiras e Baepis"; "Interpretação Semítica da Língua Tupi e Topônimos, ANtropônimos e outras Denominações Semíticas do Brasil e da América"; "Titulares do Império Brasileiro"; "Dicionário de Raízes das Palavras Compostas da Língua Portuguesa"; "Os Homens Marcados de São Vicente"; "História da Constituição Árabe-Judaica na Formação de Portugal e do Brasil"; "Pequena História Americana"; "Enguaguaçu"; "História Árabe da Língua Portuguesa"; "História das Ruas de Santos"; "Catálogo dos Titulares do Império"; "O Árabe e o Hebraico na Geografia da América e do Brasil"; e o "Dicionário dos Vocábulos Portugueses de Origem Árabe e Hebraica", em 2 volumes, com 42.000 verbetes, além de inúmeras poesias.