Gervásio Fernandes Bonavides
Gervásio Fernandes Bonavides, nasceu na Rua das Trincheiras, num belíssimo casarão no centro de João Pessoa, no dia 11 de abril de 1897. Era o segundo filho de Neófito Fernandes Bonavides, alto funcionário do Estado da Paraíba e de Adelaide Bonavides Lins, senhora de nobre família paraibana e prima irmã dos escritor José Lins do Rêgo, que fora criado na sua casa.
Gervásio fez seus primeiros estudos em João Pessoa-PB e, ainda muito moço militou na imprensa e exerceu o magistério. Nascido em lar próspero onde a intelectualidade era reconhecida como uma das maiores riquezas, e, tendo findado as possibilidades de envolver nos estudos em sua cidade natal, mudou-se para o Recife, na ocasião, maior centro estudantil da região, e sendo subsidiado pelos pais, cursou a Faculdade de Direito do Recife.
Na cidade do Recife, continuou com maior decisão a atividade jornalística, servindo à redação do Correio de Pernambuco. No ano de 1922, Gervásio se formava em Ciências Jurídicas. A capital do Brasil era o rio de Janeiro, o ano era de "Arte Moderna" em São Paulo.
O noviço Advogado queria ampliar o seu universo e, premido pelos devaneios juvenis, foi para o Rio de Janeiro. Ao término de um trimestre na cidade, viu que o seu futuro não estava lá, e sim na cidade de santos, que estava sendo conhecida por sua prosperidade. O café, maior riqueza do país, tinha toda a sua produção comercializada na cidade portuária, no suntuoso prédio da Bolsa Oficial do Café, na Rua XV de Novembro, onde, até hoje, ostenta beleza e opulência.
Gervásio optou por Santos para exercer sua faina com obstinação e, erigir sua família com dignidade. Veio com recursos para comprar seu primeiro imóvel, na então festejada Rua 7 de setembro.
O intimorato Advogado estabeleceu seu escritório na Praça Mauá, onde permaneceu por vários anos. Foram seus colegas de escritório Dr. Pedro Felipe Lessi, Dr. Nicanor Ortiz, Dr. Edu Brancato e o Dr. Osmar Del Duque que, juntos, formavam umas das maiores bancas advocatícias da região.
Um ano após sua chegada a Santos, em 1923, comprou uma grande casa na Avenida Conselheiro Nébias, 309, onde hoje funciona o SENAC. Dizem que era a propriedade particular com maior área construída da cidade. Neste casarão fundou o seu COLÉGIO LUSO-BRASILEIRO, destacado estabelecimento de ensino da elite santista, que contava com um quadro docente de primeira grandeza, como: Dr. Carlos Bandeira Lins, Dr. Maurino Jofily, Dr. Pedro Felipe Lessi, , Dr. Olvaro Pereira de Carvalho, Mister Croner, entre tantos.
O COLÉGIO LUSO-BRASILEIRO foi formador de vários intelectuais e revelou inúmeras personalidades no cenário nacional. Foram alunos do colégio vultos como: Oswaldo Paulino, Clóvis Pereira de Carvalho, João Roberto Suplici Hafers, Oscar Bezerra, Paulo Haydén, Osmar Gonçalves, Haroldo Cunha, os irmãos Frederico e João Câmara Neiva, Alaor Leite do Amaral, Otávio Ratto, Mauro Neves Gomes de Sá, Hércules Faro e outros.
Fundou, como professor e proprietário de estabelecimento de ensino, conjugado com seus alunos, o combatível Centro dos estudantes de Santos, que tantas lutas empreendeu para a construção da democracia, mormente no período ignóbil da ditadura, e que, até hoje tem papel importante na sociedade, principalmente na vida estudantil.
Contava com 26 anos de idade, era um homem culto, inteligente e empreendedor. Advogava com brilhantismo, era proprietário do colégio, professor de Português, História e Geografia.
Os anos que se seguiram foram de muito trabalho, porém em 1927 o reconhecimento veio quando, por ato de Júlio Prestes, foi nomeado membro do Ministério Público do Estado de São Paulo, passando a exercer, em Santos, o cargo de CURADOR GERAL DA COMARCA, o que na época, não o impedia legalmente de continuar, concomitantemente, na sua próspera advocacia, nem no exercício do magistério, nem tão pouco na condição de dono de colégio.
Passava, então a ser o Curador Geral da Comarca, com atribuições na época, nas cidades de Santos, São Sebastião, São Vicente, Cubatão, Guarujá, Bertioga e Praia Grande.
O então Promotor de Justiça de Santos, Dr. Gervásio, em um baile, no tradicional e renomado Clube XV, conheceu a senhorita Julieta de Azevedo, que residia em São Paulo e veio à Santos. Moça fina da sociedade paulistana, filha do Desembargador Manoel Polycarpo de Azevedo Júnior, que ocupou a vaga do nosso poeta Vicente de Carvalho na alta corte estadual. O Desembargador Polycarpo foi Presidente do Tribunal de Justiça do estado de São Paulo por duas vezes.
Julieta e Gervásio casaram-se em 1928 e desta união nasceu um único filho, o Dr. Paulo José de Azevedo Bonavides, alcandorado intelectual santista. Delegado de Polícia, Professor Universitário da Universidade de São Paulo-USP e da Universidade Santa Cecília-Unisanta, presidente do Clube XV de Santos por duas ocasiões, Presidente da Academia santista de Letras, em três gestões. Teve assento neste Instituto na Cadeira Prudente de Morais, que hoje, por brilhantismo atávico, pertence a seu filho, o Promotor de Justiça Dr. Paulo José Gallotti Bonavides.
O casal comprou uma boa casa na Avenida Washington Luiz, 549, no canal 3, onde doravante moraram. Lá cresceu seu filho e, anos depois, seus netos.Nos dias atuais, no mesmo local, há um edifício com o nome de "Julieta Bonavides", onde mora a sua nora, Leopoldina Gallotti Bonavides e um neto, Dr. Fernando Gallotti Bonavides.
O Dr. Gervásio pertenceu à Santa Casa de Misericórdia de Santos, cuja à Mesa Administrativa prestou dedicados serviços e, até os dias de hoje, em sua entrada principal ostenta placa com o seu nome, em homenagem e agradecimento.
O Poder Judiciário prestou homenagem semelhante, afixando placa alusiva aos 28 anos no cargo de Curador Geral da Comarca no hall principal do Fórum da Praça José Bonifácio, em Santos.
Foi um dos fundadores da Faculdade Católica de Direito de Santos e fora designado para reger a cátedra de Direito Internacional Privado, quando a morte o surpreendeu.
Viveu maior parte de sua vida em Santos, era torcedor entusiasmado do nosso Santos Futebol Clube, onde tinha cadeira cativa no Estádio Urbano Caldeira, na Vila Belmiro, conhecida como "A Vila Mais Famosa do Mundo". Era sócio do Clube XV de Santos e do Tênis Clube de Santos desde os primórdios anos de sua fundação. Integrou o Instituto Histórico e Geográfico de santos, sodalício respeitado que lembra um punhado de gente idealista - Valentin Bouças, Francisco Martins dos Santos, Durwal Ferreira, Júlio Conceição, entre outros.
Defendeu, com coragem, o Bem e a Justiça e, exerceu com absoluta probidade o desempenho da função pública.
De seu quinhão, na herança de seus pais, renunciou, pois venceu sozinho, com seus próprios méritos intelectuais, em uma terra nova e sem nenhum tipo de apadrinhamento, porém, apesar de distante, nunca perdeu o vínculo com a família nordestina de que muito se orgulhava e, por várias vezes, no decorrer daqueles anos, foi de navio com sua esposa e filho, passar férias com seus entes queridos.
Era um homem alegre, divertido e brincalhão, gostava de fazer charadas, mas sua melhor característica era a bondade e a generosidade com o próximo. No exercício de sua função, ou na vida privada sempre foi excessivamente caridoso o que lhe rendeu fama e gratidão eterna de muitos que o conheceram.
Contava com apenas 56 (cinquenta e seis) anos de idade, estava indo com o seu carro, dirigido pelo seu dileto amigo Dr. Quintino Ferreira Millás, ao encontro de sua família, em uma estação de águas, quando, na subida da serra, na via Anchieta, teve um enfarto e, retornou a Santos. Foi internado na Santa Casa, onde faleceu. Era 24 de abril de 1953.
Foi decretado pelo então Prefeito, luto oficial de 3 dias que se sucederam. Como homenagem, a Câmara Municipal de Santos, por unanimidade, fez doação do jazigo, no Cemitério do Paquetá, onde repousam os seus restos mortais. Houve uma grande comoção da cidade e na região. O cortejo fúnebre foi à pé da Santa Casa ao Cemitério do Paquetá, com a multidão acompanhando o féretro.
Destacam-se as municipalidades que ofereceram seu nome - Gervásio Bonavides - à vias públicas, tais como: João Pessoa, Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão e Praia Grande, já que sua conduta retilínea foi sempre pautada na verticalidade moral, tendo deixado um legado às gerações vindouras um patrimônio valioso, um testamento moral de dignidade, insuscetível de perda ou extravio, oposto ao que acontece com os bens materiais.