Ruy Barbosa
Ruy Barbosa de Oliveira , jurista, político, diplomata, escritor, filólogo e orador brasileiro, nasceu em 1849, à rua dos Capitães, hoje Ruy Barbosa, freguesia da Sé, na Cidade do Salvador, Bahia. Aos 5 anos, fez seu professor Antônio Gentil Ibirapitanga exclamar: "Este menino de cinco anos de idade, é o maior talento que eu já vi. (...) Em quinze dias aprendeu análise gramatical, a distinguir orações e a conjugar todos os verbos regulares." Em 1861, aos 11 anos, quando estudava no Ginásio Bahiano, de Abílio César Borges, futuro Barão de Macaúbas, fez o mestre declarar a seu pai, João Barbosa: "Seu filho nada mais tem a aprender comigo."
Ali, como disse mais tarde, viveu a maior emoção de toda a sua vida, quando recebeu uma medalha de ouro do Arcebispo da Bahia. Em 1864, concluído o curso ginasial, mas sem idade para entrar na Universidade, passou o ano estudando alemão. Em 65, vai para Faculdade de Direito de Olinda. Em 1867, adoece de incômodo cerebral.
Em 1868, abriga Castro Alves, seu antigo colega no Ginásio Baiano, em sua casa, por alguns dias, por razão do rompimento dele com Eugênia Câmara. Profere famoso discurso saudando José Bonifácio, o moço. Em 1870, torna-se bacharel pela Faculdade de Direito de São Paulo e retorna à Bahia, acometido, novamente, de incômodo cerebral.
Em 1871, começa a advogar e estréia no júri. Eis seu testemunho: "Minha estréia na tribuna forense foi, aqui, na Bahia, a desafronta na honra de uma inocente filha do povo contra a lascívia opulenta de um mandão." Em 1872 inicia uma trajetória no jornalismo pelo Diário da Bahia e vivencia sua primeira crise amorosa. Brasília era o nome da senhorinha, que morava no bairro de Itapagipe.
Em 1873 assume a direção do Diário da Bahia e faz conferência no Teatro São João sobre "eleição direta". O pai confessa, numa carta, que "poucos o igualam", que ele "foi aplaudido de um modo que me comoveu", "dizem-me que é superior a José Bonifácio e sustentam que certamente hoje não se fala melhor do que ele."
Em 1876, casa-se com a baiana Maria Augusta Viana Bandeira.
Em 1877 é eleito deputado à Assembléia da Bahia. Em 1878, eleito deputado à Assembléia da Corte. Em 1881 faz a Reforma Geral do Ensino. Em 1885, no auge da campanha abolicionista, José do Patrocínio escreve: "Deus acendeu um vulcão na cabeça de Ruy Barbosa." Dia 31 de Abril de 1888, 2 semanas antes da abolição, ele vaticina: "A grande transformação aproxima-se de seu termo."
Em 7 de Março de 1889, Joaquim Nabuco diz: "Evaristo na imprensa fez a Regência, e, Ruy fará a República". Em 9 de junho do mesmo ano recusa o convite para integrar o Gabinete Ouro Preto. "Não posso ser membro de um ministério que não tome por primeira reforma a federação." Em 9 de Novembro, Benjamin Constant escreve a Ruy: " Seu artigo de hoje, "Plano contra a Pátria", fez a República, e me convenceu da necessidade imediata da revolução." Em 15 de Novembro de 89, Ruy redige o primeiro decreto do governo provisório e é nomeado Ministro da Fazenda.
Em 1890, D. Pedro II diz: "Nas trevas que caíram sobre o Brasil, a única luz que alumia, no fundo da nave, é o talento de Ruy Barbosa." Ainda neste ano, lança os decretos de reforma bancária, no qual foi criticado por Ramiro Barcelos, que, anos depois, se penitenciou: "A desgraça da República foi nós, os históricos, não termos compreendido logo a grandeza de Ruy". Na sequencia o projeto de Constituição é elaborado em sua casa.
Em 1891, é nomeado Primeiro Vice-Chefe do Governo Provisório. Em 1892, abandona a bancada do Senado, depois de feita a justificativa em discurso. Dias mais tarde lança um manifesto à nação no qual diz a famosa frase: "Com a lei, pela lei e dentro da lei; porque fora da lei não há salvação. Eu ouso dizer que este é o programa da República" 23 de Abril, sobe as escadarias do Supremo Tribunal Federal, sob ameaça de morte, para defender, como patrono voluntário, o habeas-corpus dos desterrados de Cucui.
Em 7 de Fevereiro de 1893, volta à Bahia para um encontro consagratório com Manuel Vitorino, onde diz de sua terra: "Ninho onde cantou Castro Alves, verde ninho murmuroso de eterna poesia". Em setembro de 93, a Revolta. Refugia-se na Legação do Chile. Sob ameaça de morte, exila-se em Buenos Aires.
Em 1894 Ruy vai para Londres. No dia 7 de janeiro de 1895 começa a escrever as "Cartas da Inglaterra" para o "Jornal do Commercio". Em 1896 os textos a serviço dos insurrectos de 1893. Escreve na imprensa: "E jornalista é que nasci, jornalista é que eu sou, de jornalista não me hão de demitir enquanto houver imprensa, a imprensa for livre (...)"
Em 1897 recusa o convite para ser Ministro Plenipotenciário do Brasil na questão da Guiana, feito por Manuel Vitorino, vice-presidente. Escreve criticando a intervenção militar em Canudos, sertão da Bahia.
Ajuda a fundar a Academia Brasileira de Letras. Joaquim Nabuco escreveria sobre ele no livro "Minha Formação": "Ruy Barbosa, hoje a mais poderosa máquina cerebral do nosso país"
Em 3 de abril de 1902 expede parecer-critico ao Projeto do Código Civil. Em 31 de Dezembro lança a réplica às observações feitas por Ernesto Carneiro Ribeiro (filólogo, seu antigo mestre na Bahia). A tréplica de Carneiro só veio a público em 1923. Ruy foi a maior polêmica filológica da Língua Portuguesa.
Em 1905 tem sua primeira candidatura à presidência, levantada pela Bahia, mas recusa em favor de Afonso Pena. Em junho de 1907, Ruy vai à Conferência de Haia. Foi sua consagração mundial. Sobre isso escreveu W. Stead: "As duas maiores forças pessoais da Conferência foram o barão de Marschall da Alemanha, e o Dr. Barbosa, do Brasil...Todavia ao acabar da conferência, Dr. Barbosa pesava mais do que o barão de Marschall".
Em 21 de outubro de 1908 profere um discurso em francês na ABL, em recepção a Anatole France.
Nos anos de 1909 e 1910 participa da Campanha Civilista. Volta a escrever em 1911 no Diário de Notícias.
Em junho de 1913 voltar a ter sua candidatura à Presidência, pela Convenção Nacional, no Teatro Politeama do Rio de Janeiro: "A maior solenidade popular registrada, até hoje, na história brasileira." Porém, em dezembro faz um "Manifesto à Nação" renunciando à candidatura.
Em 1917, durante a Conferência sobre a Guerra, opina: "ou o gênero humano há de exterminá-la ou ela exterminará o gênero humano".
Em 1918, Paul Claudel, ministro da França, lhe entrega as insignias de Grande Oficial da Legião de Honra. Porém, recusa convite de Rodrigues Alves para ser Chefe da Delegação Brasileira ao Congresso da Paz, em Paris.
Volta a ter sua candidatura à presidência da República em 1919, novamente contra sua vontade. Participa de conferências pelo sertão da Bahia e recusa o convite de Epitácio Pessoa para representar o Brasil na Liga das Nações, em 1920, por conta da intervenção federal na Bahia.
Cansado da política e do jogo que a envolve, em 1921 renuncia ao cargo de senador, porém é novamente lembrado pelos baianos, que o reconduzem ao Senado num apelo popular. Na época declara: "É um ato de obediência, em que abdico da minha liberdade, para me submeter às exigências do meu Estado natal". Recusa o cargo de Juiz Permanente na Corte de Haia.
Felix Pacheco, no Senado, sugere a concessão de um prêmio nacional em dinheiro a Ruy Barbosa, que recusa publicamente: "A consciência me atesta não estar eu na altura de galardão tão excepcional".
EM julho de 1922, vítima de um edema pulnonar, fica acamado, em estado complicado de saúde. Em fevereiro do ano seguinte contrai paralisia bulbar. Ruy diz a seu médico: "Doutor, não há mais nada a fazer". No dia 1º de Março de 1923, falece em Petrópolis, à tarde. Últimas palavras: "Deus tende compaixão de meus padecimentos".
Logo após dua morte, o jurista baiano João Mangabeira, seu discípulo, fez o discurso em sua homenagem e memória, no dia 5 de novembro de 1924: "Na data de hoje, Sr. Presidente, na Capital da Bahia,(...) nasceu Ruy Barbosa. (...)Recordando a figura do grande evangelista que com a pena e com a tribuna, irradiando e bramindo, nas vanguardas, a peito aberto, no alto jornalismo de combate, nos comícios populares, nas casas do Parlamento, nos pretórios; nas assembléias internacionais, em toda a parte "primus inter pares" a eloqüência, de mãos dadas com a bravura, robustecida pela abnegação e animada pela fé, não precisou de outras armas, para servir, por mais de meio século construindo, deslumbrando, (...) dominando as opiniões que dirigia, às Letras, ao Direito, à Liberdade.
Ruy Barbosa enriqueceu a língua portuguesa, pela palavra falada e pela escrita, com as mais belas obras de arte. Em Haia e em Buenos Aires, para um auditório que era a humanidade, falou, por idiomas estrangeiros, em alocuções imortais que comoveram o Universo, a linguagem das mais lídimas aspirações humanas. Nunca fraqueou ante a injustiça, ante a ingratidão, ante os revezes. Nunca se acobardou ante o perigo. (Aplausos.)
(...)Construtor, por excelência, da República, foi principalmente na República, franzino e débil no corpo, quão rijo, e forte, e valoroso no espírito, a ponta de platina, impávido a receber e a desviar(...) a eletricidade das tormentas."
Ruy fez seu testamento político na fórmula de um epitáfio, que ele mesmo escreveu para sua pedra funerária: - "Estremeceu a Justiça; viveu no Trabalho; e não perdeu o Ideal" Continua Mangabeira: "Feliz do povo que estremecer a justiça! Feliz do povo que viver no trabalho! Sobretudo, Sr. Presidente, feliz do povo que não perder o ideal.